A cultura do ateliê no chão da escola brasileira

Criar mundos possíveis a partir do território

Existe uma escola que pulsa no compasso das mãos que modelam, dos olhos que observam e dos corpos que investigam.

Uma escola onde o pensamento caminha junto com a criação, e onde o fazer é também uma forma de pensar. É dessa escola que falamos quando falamos da cultura do ateliê no chão da escola brasileira.

Criar mundos possíveis a partir do território

Durante o Congresso CRIAR, vivenciado recentemente no coração do Sertão, em Petrolina (PE), mais de 250 educadores de diferentes regiões do país se reuniram para refletir, praticar e sonhar juntos sobre os sentidos do ateliê na educação da infância. Foi mais do que um evento: foi a confirmação de que é possível, sim, transformar a escola em um lugar de escuta, beleza e pertencimento.

A inspiração na filosofia de Reggio Emilia não surge como um modelo a ser seguido, mas como um convite a olhar com atenção e intenção para o território onde estamos. Como nos lembra Vea Vecchi, o ateliê é o lugar onde pensamento e mãos trabalham em sintonia. Um espaço onde as linguagens se encontram, se sobrepõem, se entrelaçam. É também um lugar político, onde a criança é reconhecida como sujeito potente e a escola como um espaço de cultura, não de contenção.

Mas para que essa cultura do ateliê se enraíze no Brasil, não basta importar referências. É preciso fazer as pazes com a nossa história. É preciso olhar com reparo para a nossa cultura, para os nossos saberes e para o entorno das nossas escolas. Num país plural como o nosso, é no chão da escola – com suas texturas, sons, desafios e riquezas – que encontraremos os caminhos para a transformação que desejamos.

Ateliê da Caatinga

Foi esse chão que inspirou a criação do Ateliê da Caatinga, uma iniciativa do Grupo Quintal em Petrolina, onde natureza, infância e estética se entrelaçam numa proposta educativa que respeita o bioma, a cultura local e a potência criativa das crianças. Lá, a Caatinga não é apenas cenário, mas linguagem, matéria, narrativa. É chão de pesquisa, de pertencimento e de reinvenção da prática pedagógica.

Movimento CRIAR Nordeste

A partir de experiências como essa, nasce o Movimento CRIAR Nordeste, que vem mobilizando educadores, gestores e comunidades a repensarem os espaços e tempos da escola da infância no Sertão. Um movimento que acredita que é possível fazer da escolaum espaço esteticamente habitável, onde todos se sintam convidados a existir com dignidade, beleza e escuta.

Criar, no nosso contexto, não é apenas um verbo. É um gesto político, poético e pedagógico. É afirmar que o Sertão não é ausência, mas presença. Que cada escola pode ser um ateliê. Que as infâncias merecem habitar espaços que convoque o sensível e o simbólico.

Como disse Bartolomeu Campos de Queirós, é preciso “sonhar longe e inventar perto.” E talvez seja justamente isso que a cultura do ateliê nos ensina: que os sonhos se constroem com as mãos, com o barro, com as palavras, com o tempo e com o chão.