
A procura do possível
O que é único sobre a aprendizagem humana é sua dedicação à possibilidade.


A procura do possível
O que é único sobre a aprendizagem humana é sua dedicação à possibilidade.

Quando nós seres humanos aprendemos, o ato de aprender nos leva para além do que havíamos encontrado e nos impulsiona para dentro da esfera do possível. O processo de aprendizagem humana não é simplesmente sobre adquirir conhecimento daquilo que encontramos: é um processo dedicado a “ir além da informação dada”. Não há outra espécie na face da Terra tão dedicada à busca do possível.
E é essa dedicação à possibilidade que tem levado nossa espécie à invenção e elaboração das culturas humanas. Toda cultura humana, seja ela “primitiva” ou “civilizada”, institucionaliza os produtos do aprendizado de forma a tornar o conhecimento não apenas mais disponível aos seus membros, mas também mais útil e “transferível” para situações novas. Tomando como exemplo, nós espontaneamente dançamos ou olhamos para as estrelas no céu, mas com o tempo precisamos dançar com os outros, ou olhar para as estrelas de modo a nos comunicarmos para com os outros. As razões para tal necessidade vão além de “costumes sociais”, uma vez que maneiras de ultrapassar esses mesmos hábitos também se desenvolvem em dado momento. Vamos além da dança espontânea e do distraído maravilhamento com as estrelas e inventamos modos mais poderosos e sistemáticos de ação – astronomia e coreografia, nesse caso. Ambos os modos incorporam nossas qualidades sociais e espontâneas no fazer das coisas, embora também nos possibilitem elaborar e estender essas qualidades com impressionante flexibilidade e inventividade. Nós aprendemos lições do passado, é claro, mas desabrochamos insonhados de possibilidades para o futuro.
E chegamos agora até mesmo a novas formas de assistir a aprendizagem através do ensino. Nós agora assistimos os jovens de maneira a ultrapassar o imediato para adentrar o campo do possível. Repito, não há espécie na face da Terra para além de nós, humanos, que promova esse tipo de aprendizagem assistida. A chamamos de “educação”, o cultivo de modos que permitam ir do passado e do presente para adentrar o possível. De fato, chegamos até a ensinar aos nossos jovens como aprender de maneira produtiva: a arte de aprender meios de elaborar em cima do que foi apreendido, e não apenas adquirir e estocar informação.
Também sabemos agora que devemos assistir esse processo de “aprender a elaborar” desde o começo, desde os primeiros anos, até mesmo na infância. É disso que as notáveis pré-escolas de Reggio Emilia se tratam! E não apenas a educação está se transformando de acordo, mas também nossa cultura humana. Estamos adentrando tempos revolucionários com ênfase na profundidade do conhecimento, ao invés de sua extensão. Estamos descobrindo que uma aprendizagem profundamente pensada promove não apenas competência humana, mas também dignidade criativa. As maravilhas de aprender, nós agora sabemos, são de fato muitas!