As crianças leem o mundo de muitas formas antes mesmo de ler palavras. Leem com os olhos, com as mãos, com o corpo inteiro.
Deixam marcas e escritas muito antes de saberem decodificar letras e sons — e isso não é apenas um detalhe curioso, é parte essencial de como constroem sentidos sobre si e sobre o mundo.
Paulo Freire nos lembra que “a leitura de mundo antecede a leitura da palavra”. Nas pedagogias participativas, a leitura e a escrita são compreendidas como linguagens expressivas — entre tantas outras — que nos ajudam a comunicar ideias e pensamentos. Como qualquer linguagem, têm uma gramática própria, construída na relação viva com experiências, contextos e interlocutores.
Ao ler, abrimos as portas para que o mundo entre em nós e, a partir daí, possamos compreender significados — um movimento de fora para dentro. Ao escrever, é preciso se escutar, perceber o que se deseja comunicar e escolher a forma mais adequada de expressar isso, considerando um código social — um movimento de dentro para fora.
Por isso, não há “clique” mágico. A aquisição da leitura e da escrita não acontece de forma repentina. Pesquisadoras como Emilia Ferreiro e Ana Teberosky mostraram que, desde muito cedo, as crianças elaboram hipóteses sobre os códigos sociais e que esse processo é contínuo, tecido nas experiências do cotidiano.
Ainda hoje, muitas famílias veem a leitura e a escrita como um marcador de status social e
cobram que a escola “ensine” o mais cedo possível, acreditando que isso é sinal de
inteligência. O resultado? Muitas instituições antecipam etapas, cedendo a essa pressão.
Mas, ao fazer isso, acabam prejudicando o desenvolvimento cognitivo, afetivo e motor —
três dimensões que precisam caminhar em equilíbrio para que qualquer aprendizagem se
sustente.
A Educação Infantil não é o lugar de sistematizar a leitura e a escrita, mas sim de fomentar
o desejo, de oferecer experiências ricas que ampliem repertórios e preparem o corpo, a
mente e as emoções para que essas linguagens floresçam com consistência.
Valorizar as primeiras interações das crianças com riscadores e suportes, e estimular sua
curiosidade diante dos materiais, vai muito além da “brincadeira divertida”. É abrir caminho
para experiências sensoriais e motoras que serão a base para todo o processo de
alfabetização.
Num mundo acelerado, a escola precisa garantir tempo para que as crianças tenham
experiências significativas com os outros e com o mundo, tornando-se indivíduos
confiantes, curiosos e criativos, prontos para enfrentar os desafios da vida contemporânea.
Quer saber como planejar contextos investigativos de leitura e escrita desde o berçário até
o Fundamental I, sem perder de vista o brincar, a curiosidade e o respeito pelo tempo da
infância?
Clique aqui e inscreva-se no curso: Cem linguagens para ler e escrever o mundo
Porque alfabetizar é muito mais do que ensinar a juntar letras — é abrir portas para as cem
linguagens da criança.