Nas colinas da Toscana, visitei uma escola que me ensinou, em silêncio, o que significa cuidar do espaço como quem cultiva um jardim de afetos.
O chão era de terra batida, e os bancos, feitos com jornais trançados, eram cobertos por crochês delicadamente tecidos pelas avós da comunidade. Diferente do que muitos poderiam imaginar, não havia ali falta — havia potência.
Não se viam brinquedos prontos nem materiais comprados em grandes lojas. Os materiais eram da vida: colheres, pedras, retalhos, sementes, galhos e fios, organizados em coleções que contavam histórias e convidavam à experimentação. Tudo era simples, mas profundamente intencional.
Um perfume suave preenchia o ambiente — o do chá quente feito com ervas colhidas na horta comunitária, que aquecia corpo e alma de quem entrava. Esses pequenos gestos criavam uma atmosfera memorável. E mais do que um espaço bonito, havia ali um lugar que dizia, silenciosamente: “você importa”.
A comunidade estava presente em cada canto — não apenas contribuindo com objetos e materiais, mas participando ativamente dos diálogos sobre infância e educação. Aquela escola era um organismo vivo, construído com muitas mãos e sonhos compartilhados.
E foi inevitável me perguntar: quando lembramos com afeto de uma experiência marcante, o
que é que realmente fica? As memórias vêm com cheiro, com cor, com temperatura, com
rostos. Elas vêm com o chão que pisamos, com as palavras que escutamos, com o modo
como fomos olhados.
Que memórias estamos construindo na escola com as crianças? Que experiências estamos
semeando?
Esse retorno às aulas pode ser uma oportunidade para reorganizar os espaços e renovar os
sonhos.
Que este recomeço nos inspire a cultivar espaços que escutem, abracem e encantem. Porque a escola é feita, sobretudo, de atmosferas — e elas nascem nos detalhes. Que cada educador possa, com seu olhar e sua presença, tecer um cotidiano que deixe marcas de afeto e pertencimento.