Espaços que deixam marcas: um convite ao retorno sensível à escola

A beleza nascia das minúcias e dos gestos generosos.

Nas colinas da Toscana, visitei uma escola que me ensinou, em silêncio, o que significa cuidar do espaço como quem cultiva um jardim de afetos.

O chão era de terra batida, e os bancos, feitos com jornais trançados, eram cobertos por crochês delicadamente tecidos pelas avós da comunidade. Diferente do que muitos poderiam imaginar, não havia ali falta — havia potência.

A beleza nascia das minúcias e dos gestos generosos.

Não se viam brinquedos prontos nem materiais comprados em grandes lojas. Os materiais eram da vida: colheres, pedras, retalhos, sementes, galhos e fios, organizados em coleções que contavam histórias e convidavam à experimentação. Tudo era simples, mas profundamente intencional.

Um perfume suave preenchia o ambiente — o do chá quente feito com ervas colhidas na horta comunitária, que aquecia corpo e alma de quem entrava. Esses pequenos gestos criavam uma atmosfera memorável. E mais do que um espaço bonito, havia ali um lugar que dizia, silenciosamente: “você importa”.

A comunidade estava presente em cada canto — não apenas contribuindo com objetos e materiais, mas participando ativamente dos diálogos sobre infância e educação. Aquela escola era um organismo vivo, construído com muitas mãos e sonhos compartilhados.

O que realmente permanece na memória?

E foi inevitável me perguntar: quando lembramos com afeto de uma experiência marcante, o que é que realmente fica? As memórias vêm com cheiro, com cor, com temperatura, com rostos. Elas vêm com o chão que pisamos, com as palavras que escutamos, com o modo como fomos olhados.

Que memórias estamos construindo na escola com as crianças? Que experiências estamos semeando?

Esse retorno às aulas pode ser uma oportunidade para reorganizar os espaços e renovar os sonhos.

Sugestões simples e potentes para repensar a estética no ambiente escolar:

  • Coleções com alma:
  • Em vez de decorar com objetos prontos, que tal criar pequenas coleções de materiais naturais ou do cotidiano? Conchas, tecidos, galhos, pedras, carretéis, tampas ou botões — quando organizados com cuidado e intenção, esses materiais tornam-se convites poéticos à investigação e ao brincar.

  • Imagens que nos olham de volta:
  • Pense nas imagens que estão nas paredes da escola. Elas comunicam o quê? Representam quem? Evite imagens genéricas ou estereotipadas. Prefira fotografias reais das crianças em ação, obras de arte, retratos diversos, ilustrações que ampliem o repertório visual e simbólico do grupo.

  • Menos é mais:
  • Estética também é respiro. Um espaço bonito não precisa ser cheio. Às vezes, um canto com luz natural, uma mesa com uma flor e um punhado de argila já criam uma atmosfera de acolhimento e presença.

  • Gestos que acolhem:
  • Um chá no começo do dia, um aroma no ambiente, uma música suave… A estética é também sensorial. Como diz Bachelard, o espaço vivido é o que toca nosso corpo e nossa memória.

    Que este recomeço nos inspire a cultivar espaços que escutem, abracem e encantem. Porque a escola é feita, sobretudo, de atmosferas — e elas nascem nos detalhes. Que cada educador possa, com seu olhar e sua presença, tecer um cotidiano que deixe marcas de afeto e pertencimento.