Os sons, cheiros e cores de uma nova paisagem nos atravessam como se fossem ventos frescos em manhãs de recomeço.
Como diz o poeta, estar em viagem é acordar para as novidades do mundo – e talvez seja assim que as crianças se sentem, se soubessem que nasceram.
Com o tempo, a inquietude se acomoda e os olhos, antes estranhados, começam a habitar. O que era desconhecido se torna paisagem íntima. Mas há lugares que, para além da geografia, nos provocam outras camadas de reflexão. Los Angeles foi um desses lugares.
Caminhar por LA é reafirmar que a realidade, por si só, não nos basta. Em cada esquina pulsa a fantasia – aquela que tantas vezes atribuímos apenas à infância. As ruas de Beverly Hills, os cenários de filmes que moldaram nossa imaginação coletiva, as praias de Santa Monica e Venice Beach… tudo ali parece nos lembrar que o simbólico é parte da experiência humana em qualquer idade. Que os sonhos não são um direito exclusivo das crianças.
Com meu olhar de atelierista, me vi constantemente convocada a prestar atenção: nas texturas do urbano, nas coreografias do cotidiano, nos territórios que entrelaçam arte, ciência e vida. Los Angeles é, por excelência, uma cidade-laboratório – onde o letramento científico se mistura com a linguagem sensível das imagens.
Ali, academias a céu aberto dividem espaço com praças performáticas. Redes de vôlei,
pistas de dança na areia, boxe ao ar livre e até aulas de spinning frente ao mar. Tudo é
corpo em movimento. E enquanto os carros autônomos cruzam as avenidas do presente, a
cidade resgata faroestes do passado. É uma tensão criativa entre o que foi e o que será.
Sim, é possível andar em carros que se dirigem sozinhos – e ainda conversam com você. E
também é possível cruzar com artistas de rua, com músicos em esquinas vibrantes e com
crianças brincando em espaços públicos que mais parecem cenários cinematográficos. Em
LA, o real e o imaginário se entrelaçam com naturalidade.
E é exatamente essa sensação – de maravilhamento, deslocamento e curiosidade – que a cultura do ateliê busca provocar, todos os dias, no chão da escola. O ateliê como viagem: um convite a sair de si, experimentar outras formas de ver, de pensar, de sentir o mundo. Um território onde a infância encontra abrigo e o adulto se permite, também, sonhar.
Afinal, como criar nas nossas escolas experiências que entrelacem corpo, sonho e tempo?
Como sustentar espaços em que o maravilhamento não seja exceção, mas cultura?
A cultura do ateliê é esse chamado cotidiano à expansão estética. Mesmo sem avião, sem
passaporte, sem carimbo. Uma viagem interior e relacional, onde cada material, cada gesto,
cada investigação é passagem para novos mundos.
Viajar, no fundo, é também um estado de presença. E o ateliê nos lembra disso: que é
possível nascer de novo todos os dias, se formos capazes de olhar para o mundo como
quem vê pela primeira vez.