A criança não se impressiona com a superficialidade formal. Há sempre, de sua parte, um interesse maior pela substância e menor pelo resultado.
A criança não se impressiona com a superficialidade formal. Há sempre, de sua parte, um interesse maior pela substância e menor pelo resultado.
A alegria de criar com as próprias mãos pode ser observada nos diferentes espaços de brincar. Mas é no contato com a natureza que a criança tem oportunidade de dialogar com os elementos naturais, consigo e com o universo. É do lado de fora, no manusear o barro, as pedras, a terra, o vento, as folhas, a chuva, os galhos, as flores e as sementes que aguçamos os sentidos e acessamos nosso potencial criativo.
Nos espaços naturais, ao ar livre, experienciamos também a espera, o medo, a contemplação, o espanto, o imprevisto. O movimento de aproximação com a natureza nos faz retornarmos ao nosso SER. Tocamos a terra e somos tocados por ela. Corpo natureza, integração.
Segundo Wallon, a exploração intensa e sistemática do ambiente permite que a inteligência dedique-se a construção da realidade, assim como a função simbólica projetada em atos inaugura o pensamento discursivo. “A função da inteligência, para o adulto como para a criança, Wallon entende como residindo na explicação da realidade(…) Explicar é determinar condições de existência, entendimento que abarca o mais variado tipo de relações(…) tudo está ligado a tudo, além de estar em constante devir”. (OLIVEIRA, p.43)
E o que seria esse devir? A capacidade de se interrogar? Duvidar? Transver? Confrontar? Maravilhar? Desejar? Conhecer? Ou tudo isso simultaneamente? Para a filosofia, fluxo permanente, movimento interrupto, atuante como uma lei geral do universo, que dissolve, cria e transforma todas as realidades existentes, vir a ser. (OXFORD)
Somos sujeitos de relação, nos constituímos na relação, conosco, com outros, com o mundo. Nos momentos de liberdade, do lado de fora, de brincar com e na natureza desenvolvemos inúmeras aprendizagens ao criarmos e recriarmos a realidade existente. Natureza é fluxo, somos fluxo e nos tornamos conscientes de nossa humanidade.
Penso que é justamente nesse ponto que a dimensão estética se entrelaça com a educação. Estética entendida como modo de estar no mundo, de se relacionar com as coisas, de ter empatia, que faz escolher um gesto a outro como “um ser sensível a uma estrutura que conecta” (VECCHI) e transita entre pensamento divergente e convergente, para explicar a realidade. Teorias “moles”, provisórias, capazes de abarcar imprevistos, incertezas, faltas e vazios. Vazios que nos impulsionam e nos movem ao desejo de descoberta, que aguçam nossos sentidos e nos abrem ao constante devir.
Não a toa o britânico Ken Robinson aponta que “o artista é a criança que sobreviveu”. Através da arte unimos cognição e sentidos, nos reintegramos. A arte acessa o nosso ser sensível, nos desloca do lugar comum nos colocando em alerta de corpo inteiro. Nos retoma a essência crianceira, a inteireza, a presença expressa no BRINCAR infantil e no olhar contemplativo em busca da verdade das coisas. Simplesmente brincar possibilita, antes de tudo, nos tornarmos SERES HUMANOS.