Um milho no varal: o que só acontece em uma escola da infância

Há imagens que atravessam.
Que parecem simples, mas carregam mundos.

Esses dias, na escola, me deparei com duas espigas de milho penduradas em um varal de roupas.

Sim, um varal. Dentro da escola.

Ao lado, pinturas feitas pelos bebês.

Linhas e manchas deixadas por mãos pequenas, gestos intensos, e… pelo próprio milho.

Aquela cena me paralisou por alguns segundos.

Há imagens que atravessam.
Que parecem simples, mas carregam mundos.

E pensei: tem coisas que só acontecem em uma escola da infância.

E talvez seja exatamente esse o território onde a cultura do ateliê se manifesta com mais força: no inusitado, no inesperado, naquilo que escapa ao controle do planejamento e ganha vida própria.

Porque o milho ali não era só milho.

Era pincel.

Era textura.

Era instrumento de contato, de marca, de corpo.

O ateliê como estado de presença

Quando falamos de cultura do ateliê, não estamos falando apenas de um espaço físico com tintas e papéis organizados.

Falamos de um estado de presença.

De uma forma de estar no mundo que nos permite enxergar o potencial poético das coisas. De pensar por metáforas.

De abrir espaço para a imaginação e a criação, sem exigir que tudo siga um caminho lógico e previsível.

Assim como a arte contemporânea, o ateliê rompe com o óbvio.

Abre brechas.

Tensiona.

Permite o improviso e o risco.

Entre arte e infância

As crianças, especialmente os bebês, têm essa potência viva do estranhamento.

Elas ainda não foram totalmente capturadas pelas funções e pelos usos habituais dos objetos.

Um rolo de papel vira túnel, o milho vira pincel, o chão vira tela.

São mestres em subverter a ordem das coisas.

E é por isso que precisamos cuidar para não sufocar esse modo de ver com nossas concepções adultas e enrijecidas.

Mais do que apresentar “atividades”, o ateliê deve se colocar como um convite à experimentação, ao toque, à descoberta sensorial do mundo.

A ação é mais importante que o produto.

A vivência vale mais que o resultado.

A pintura feita com o milho não precisa virar quadro — basta que tenha sido gesto, tempo compartilhado, presença e escuta.

O papel do atelierista

O milho no varal me fez pensar também no papel do atelierista como alguém que amplia as lentes.

Que vê o que não está evidente.

Que provoca.

Que documenta o gesto invisível.

E que prepara o ambiente como um campo sensível, capaz de acolher o inesperado com poesia.

Sugestões de materiais para ateliês com bebês.

Abaixo, compartilho alguns materiais e elementos que podem compor um ateliê sensível e provocador para a primeiríssima infância, inspirados nesse olhar que amplia, acolhe e convida à experimentação:

Para finalizar…

O milho no varal era uma pergunta aberta.

Era arte.

Era infância.

Era ateliê.

Talvez a melhor definição de um ateliê para bebês seja essa:

um espaço-tempo onde podemos, junto com eles, ver de novo o que já tínhamos deixado de enxergar.