x
Procurar
Close this search box.

Usar ou não avental nos momentos de pintura na escola de Infância? É certo ou errado?

A escuta e a ética do encontro

Alteridade e singularidade

Alfredo Hoyuelos fala da complexidade das relações no cotidiano da escola de infância e nos faz pensar que o complexo está no simples do dia a dia porque revela quem somos. Para que teoria e prática caminhem lado a lado, é preciso prestar atenção nas ações cotidianas, caso contrário, mesmo sem perceber,  reproduzimos uma prática transmissiva disfarçada de inovadora. “Não podemos educar sem nos indagarmos”(HOYUELOS).

Ao refletir sobre isso, Loris Malaguzzi encontra na prática da documentação pedagógica uma estratégia potente para a autoformação docente que, além de estreitar pontes entre discurso e prática pedagógica, torna visível ao mundo a concepção contemporânea de infância – revelando a potência expressa nas manifestações infantis quando respeitadas e valorizadas.

Nasce assim a Filosofia de Reggio Emília e a ideia de uma cultura do ateliê onde as 100 linguagens transitam e passeiam e onde todos que ali habitam compreendem para que e por que trabalham: para garantir e sustentar os direitos das crianças de SER.

Fato é que o uso do avental ou não é um dos muitos dilemas que enfrentamos no chão da escola. Se olharmos distanciadamente há sempre bons argumentos para usar ou não vestimentas para momentos de pintura, seja pela solicitação das famílias, pela organização cotidiana de muitas instituições ou até pela falta de conhecimento dos educadores e comunidade. Precisamos compreender que o avental ou as “blusas de pintar” não são vilões nem mocinhos, porque esse é mais de um dos muitos dilemas contemporâneos e o que verdadeiramente importa são onde estão pautados os princípios das nossas decisões.

Certa vez perguntaram ao professor Malaguzzi ao que ele atribuia o sucesso das escolas de Reggio Emília e ele respondeu que acreditava que o importante é que eles olhavam para os dilemas cotidianos com seriedade e dialogavam sobre os caminhos possíveis, sempre tendo como ponto de partida as crianças. 

Garantir os direitos das crianças e não traí-las na sua forma de SER e CONHECER é desafiante no caminhar do dia a dia. Para não nos perdermos é preciso conversar, dialogar, pensar sobre o que acontece a partir do chão da escola, do cotidiano real e de crianças reais. É preciso também estudar, saber sobre as infâncias e suas linguagens – como por exemplo que toda a aprendizagem passa pelo corpo, que é preciso roupas adequadas para que as crianças se movimentam em liberdade, espaços que sustentem as suas pesquisas, educadores que acolham suas subjetividades sem perder de vista a escola como lugar comum. 

 

É preciso compreender sobre tempo, ritmo, desenvolvimento infantil… conhecer materiais para fazer boas escolhas. Mas acima de tudo é preciso disponibilidade para escutar e ver as infâncias em grupo porque educação se faz na troca de visões. Somente assim poderemos nos indagar e negociar sentido rompendo com a lógica transmissiva para uma verdadeira prática democrática.  

Por que escolhemos colocar ou não vestimentas de pintura nas crianças?

Como escolhemos fazer essa dinâmica? 

Isso inibe ou sustenta a possibilidade expressiva autêntica das crianças? 

Isso impacta ou não o bem estar global do cotidiano das crianças e bebês? 

Como a pintura é vista na escola de infância? 

Como, quando e onde falar sobre esse tema com as famílias e envolvê-las no processo? 

Temos que ter claro que as perguntas nos levam a diferentes e diversas interpretações e que o exercício da democracia – buscar a melhor decisão a partir do que melhor atende às crianças dentro de um espaço comum – nos leva ao verdadeiro caminho de uma prática democrática. “As perguntas, sobretudo, quando trabalhamos em grupo, geram novos âmbitos de discussão – como sujeição a ação solidária dos colegas – que implica um novo léxico e a possibilidade de propagar um novo conhecimento”(HOYUELOS).




Conheça nossos cursos